quinta-feira, 26 de novembro de 2009

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A ÁRVORE DE NATAL DO ZÉFO DIAS

AS HISTÓRIAS MAIS HILARIANTES DO ALENTEJO

Uma vez o Zéfo Dias chegou-se ao pé de mim e disse-me se eu queria ir com ele buscar uma árvore de Natal. Eu disse-lhe:
- Atão mas que lembrança é essa agora? Atão mas onde é que vais buscar agora uma arvore de Natal?
- Vens ou não vens porra? (Disse-me ele já resquentado)
- Pronto eu vou!
As pessoas souberam que o Zéfo ia e atão vieram encomendar árvores de Natal à gente.
Ele foi buscar o tractor e trouxe também um machado muito grande e um serrote.
- Atão isso é para quê? (perguntei eu)
- Atão é para cortar a árvore, seria para quê!!! Atão pensas que elas caem sozinhas? (Disse-me ele)
Bem de maneiras que lá abalámos no tractor dele até chegarmos a uma mata. Ele meteu com o machado às costas e subiu atão lá para cima duma árvore daquelas. Andou a cortar, a cortar mas não gostava de nenhuma porque não faziam aquele bico para meter a estrela lá em cima. Bem cortou algumas oito. Nisto quando a gente vê vir de lá um homem a esbracejar e com uma espingarda à cara fugindo a muito direito à gente.
- Malandros daquele diabo! Estão aí a estragar-me as oliveiras todas eu já lhe digo!
Demos um salto, ficámos logo em cima do tractor. Aí vão eles à carga. Raspamo-nos dali mais depressa com que tínhamos chegado.
- Atão mas tu não viste logo que aquilo eram oliveiras? (Disse-lhe eu)
- Atão não é verde? As árvores de Natal não são verdes também! (Disse-me ele)
De maneiras que lá abalámos e fomos atão parar a outro matagal.
Aqui é que é! (Disse ele)
- Tens a certeza que isso aí são árvores de Natal? Vê lá!
- Atão mas tu pensas que eu não sei o que são árvores de Natal? À pecado só me enganei porque ainda tina os olhos enrramelados!
Bem ele lá galgou para cima duma árvore daquelas e vá de machadadas. Ao fim de ter cortado algumas cinco, eu cá desconfiado perguntei-lhe assim:
- Escuta lá, não é por nada mas eu cá já tenho visto árvores de natal na televisão e nunca vi nenhuma com estas flores amarelas!
Ele começou a olhar a preceitos para aquilo e atão lá me disse:
- Atão isto que aqui está são loendreiros! Atão não vês que parecia mesmo árvores de Natal!
Andámos mais uma poucochinho e lá encontramos mais uma mão cheia de árvores mesmo além ao pé da estrada.
- Isto é que são árvores de natal! Não vês que fazem aquele bico e tudo? (Disse eu)
E lá fomos, ele saltou lá para cima e em menos de uma hora limpou algumas 12. Metemo-las todas em cima da relote do tractor e marchámos a caminho do monte.
- Escuta com o que a gente aqui leva, fazemos um dinheirão a 200 mérreis cada uma! (Disse-me o Zéfo Dias)
Chegámos ao monte, já era de noite, parámos o além no largo e as mulheres lá vieram buscar as árvores que tinham encomendado. Bem ainda ficámos com um conto reis cada um.
- Escuta amanhã vamos buscar mais! (Disse eu)
No outro dia, estávamos a gente a prepara-se para irmos buscar mais, quando a gente vê o Patolas vir com uma árvore de Natal e a chamar aldrabões à gente.
- Atão mas o que é isso? Dormiste com o cu destapado ou quê?
Ele jogou a arvore de Natal para cima da gente e pediu os duzentos merreis porque disse a gente tínhamos enganado a mulher dele. aquilo eram eucaliptos pequeninos e não eram arvores de natal. Ainda estava ele a garrear com a gente quando começam a chegar as outras que tinham comprado a árvores à gente.
- Zéfo vamos mas é embora que eles vêem com caras de poucos amigos direito á gente. (Disse eu)
Ainda não tinha acabado de dizer isto, olhei para o lado já o Zéfo ia fugindo lá barreira a baixo que nem um desalmado.
- Espera aí! Atão agora deixas-me aqui sozinho!
Abalei desembelgado a fugir atrás dele e a família com os eucaliptos na mão atrás da gente.
Atão a gente fazemos-lhe um favor e é assim que agradecem… Para a próxima vão eles buscá-las!

João Paulo

O MEU PRIMEIRO NAMORO

AS HISTÓRIAS MAIS HILARIANTES DO ALENTEJO

Quando eu era moço, era muito envergonhado, de maneiras que quando arranjei a primeira namorada já eu tinha quase 30 anos e foi com a ajuda do Zéfo Dias que um dia se virou para mim e me disse assim: - Vamos a um baile ao monte de Carocha que além é que tu arranjas uma moça para ti!
Lavei os pés e os sovacos com uma falhinha de sabão azul, vesti umas calças muito apertadas (que ele disse que aquilo é que estava na moda) uma camisa amarela com riscas verdes e então lá fomos agente no tractor dele a caminho do baile. Bem as calças eram tão apertadas que nem o maço de tabaco cabia na algibeira, e então as partes baixas….. A modos que aquilo era tão justo que quando cheguei ao baile estava todo assado. Entramos lá no baile e fomos logo buscar uma grade de médias e um franganito que era para não irmos lá muita vez. Aquilo era grande baile que ali estava. – Os bailes aqui na Carocha são sempre assim o que é que pensas? (Disse-me o Zéfo Dias). Bebemos ali um par delas e às tantas o Zéfo Dias disse-me assim: - Olha! Tas a ver além aquela do buço? Vai-te a ela!
- Atão mas vou-me a ela e digo-lhe o que? (Perguntei eu)
- Atão vê lá se queres que eu te faça a papinha toda? Desenrasca-te homem!
Nisto a moça abalou ali para atrás dum montão de lenha para ir à casa de banho e eu fui-me a ela mas fiquei à espera dela além ao pé dum poste a uma esquina. Tive além à espera, à espera, bem fumei quase um maço de tabaco com os nervos e ela não havia meio de aparecer. Ao fim dum bom bocado lá veio. Quando vem a passar ao pé de mim, eu meti-me ali a preceitos assim bem como aqueles engatatões que dão aí na televisão, passei o dedo gordo por os meus becos e disse-lhe assim: - Atão borracho…. Tiveste a cagar não?
Eh ela, se aquilo lhe pareceu mal. Começou-me a chamar nomes e a mandar-me barqueiradas, e eu vá de fugir.
Bem quando voltei ao baile já o Zéfo Dias andava atracado a uma palmilhona valente que o metia debaixo dos braços. Pensei cá para mim: - Atão mas tu serás sempre o mais parvo? Lombriguei além uma que estava sentada no colo da mãe e fui-me a ela.
- Atão queres bailar comigo? (Perguntei-lhe eu)
- Ah isso tens que pedir à minha mãe!
E eu lá pedi. Ela olhou-me de alto a baixo algumas quatro vezes e virou-se para a filha e disse-lhe assim: - Vai lá! Vai lá mas bailas aqui onde eu te veja, não o deixes levar-te lá para o meio que aquilo além são só poucas vergonhas e eu já sei como é que é!
Porra, velha dum cabrão! Tal não é aquele feitio!
- A tua mãe é sempre assim ou só quando está de caganeira? (Perguntei eu à moça)
- Deixa-a da mão, deixa-a! (Disse-me a moça)
Lá começámos a bailar mas custámos a acertar porque eu também não era lá muito dado a bailes, mas lá acertámos. Ela lá me teve a contar que guardava porcos e tinha também uns perus no choco. Lá me disse que a tia era a padeira Palmira Careca, que fazia pães que mais pareciam estrumeiras, muito grandes. Às tantas disse-me assim: - Olha! Se quiseres ir à minha casa amanhã à noite podes ir que não está lá ninguém! Estás à vontade!
Eu atão lá fui e quando lá cheguei não estava mesmo lá ninguém… nem ela estava lá tão pouco. (Afinal tinha razão). De maneiras que fiquei tão aborrecido com aquilo que comprei um rafeiro.
Um dia, estava eu a passear com o bichinho, fui até ao barranco onde as mulheres iam lavar a roupa. Cheguei lá, descuidei-me além um poucochinho com o cão e ele foi mijar mesmo para cima duma toalha de mesa que estava ali estendida a secar no chão. Oh veio de lá logo mulher desalvorida e a mandar postas de pescada comigo. Quando ela vem chegando ao pé de mim… Bem àquilo é que se pode chamar amor à primeira vista. `a primeira e única, porque ela só tinha um olho. Os meus olhos arregalados olhando para aquele sorriso. De boca aberta, os dentes pareciam as teclas de uma concertina já velha, amarelas e com as teclas pretas e tudo porque lhe faltavam dois dentes em cima e um em baixo. Mas isso a mim não me interessava nada, apesar dela coxear um bocadinho, eu vi além a mulher da minha vida. Virei-me para ela e perguntei-lhe:
- Qual é a sua graça?
- Cipriana Calabaíta!
Bem tivemos além de conversa umas horas valentes e lá começámos a namorar. A modos que eu andava todo contente porque já tinha uma namorada. Fui lá a casa dela 2 vezes. Mesmo assim ainda namorámos muito tempo. Ao fim de quase 8 dias de namoro marcámos o casamento na igreja do monte das Arrabaças que levava mais gente. No dia do casamento, não sei como é que fiz aquilo, descuidei-me e deixei-me dormir. Levantei-me e vesti-me à pressa, um fato amarelo que tinha comprado no mercado por dois contos e quinhentos. Com a pressa nem atei os cordões das botas. Montei-me na minha motorizada dei ao pedal mas a bicha não queria pegar, teve de ser de empurrão. Bem andei para aí uns 10 metros, os cordões das botas enlearam-se na corrente da motorizada, aí vai ele com as ventas arrojo. Rasguei o casaco todo e com a porrada rebentou o pneu da frente. – Atão e agora? Joguei a mão à algibeira a ver se tinha remendos mas nada. Bem enleado com aquela charenga, papei além a manhã inteira e metade da tarde, nem almocei. Como o casaco já estava rasgado atei-o à roda e lá fui eu. Cheguei lá já era quase sol-posto, já não estava lá ninguém, já tinha desabelhado de lá tudo pois atão. De maneiras que poso dizer que são não casei por causa duns cordões.
Ainda hoje ando à pergunta duma para me lavar as cuecas.


João Paulo