quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A FESTA DE NATAL

AS HISTÓRIAS MAIS HILARIANTES DO ALENTEJO

Estávamos a chegar ao Natal e lá no monte eram só bonecos encarnados e de barbas brancas pendurados por aqueles telhados a fora. Eles chamavam-lhe Pai Natal.
- Ele há com cada uma!
Tínhamos então preparado uma festa lá no monte, no casão onde fazem os bailes, para a família toda se juntar para comer e beber até às quinhentas. Depois abriam os presentes todos lá na festa quando chegasse a meia-noite. De maneiras que andava tudo desalvorido, dum lado para outro a fazerem filhoses e torresmos.
- Não se esqueçam do vinho! Senão não ponho lá os pés! (Disse eu)
Bem no dia da festa, mesmo na véspera de Natal, lá foi tudo para o casão. Ia tudo vestido de lavado, banhito tomado e tudo. Até eu dei banho! Era um fedor a perfume naquele casão, até fazia arder os olhos.
Juntou-se além tudo, vá de comer e beber. Houve ali menino que já não chegou ao telejornal. Havia ali com cada camada já aquela hora…
Antes do pessoal ir buscar os presentes a casa, perguntei eu:
- Atão mas onde é que anda o Zéfo Dias?
- Oh… Até parece que não sabes já como aquele bicho é! Só se lembra das coisas em cima da hora deve ter ido comprar alguma coisa para trazer. (Disse o Patolas)
Bem o pessoal lá abalou tudo a caminho de casa buscar as prendas e ao fim dum bocadinho saiu uma a gritar:
- Assaltaram-me a casa! Roubaram-me as prendas todas!
- A mim também…. Roubaram-me a despensa!
- Eu também fui assaltada!
Bem era tudo a queixar-se ali na rua. Nisto quando começámos a ouvir um ganir qualquer que vinha de cima do telhado. Fui buscar uma escada, subi lá acima do telhado, quando eu fui dar com o Zéfo Dias emborcado numa chaminé só com os pé de fora e um saco muito grande ao pé dele.
- Atão mas o que é que tu estás aqui a fazer nesses preparos? (perguntei-lhe eu)
- Ó homem tira-me lá mas é daqui e cala-te! (Disse-me ele)
Lá o puxámos, tivemos que ser alguns três que o bicho estava preso pela barriga e custámos a dá-lo tirado. Estava então vestido de encarnado como os bonecos lá do monte e com umas barbas que já não eram brancas porque ele estava todo mascarrado do carvão da chaminé.
Abrimos atão o saco que ele tinha, começámos a tirar coisas cá para fora. Bem ele eram latas de grãos, escovas, pomada para as botas, prendas, um fogão a petróleo, duas ratoeiras, uma mangueira, um aparelho de soldar….
- Isso é meu! (Disse uma a apontar para o fogão)
- Aquelas ratoeiras são as minhas! (Disse outra)
O Zéfo pegou nas pernas e ala que se faz tarde. Abalou tudo à carga a fugir atrás dele vestido de Pai Natal mas não o demos apanhado.


João Paulo